Vista da 34ª Bienal de São Paulo, "Faz escuro mas eu canto". Foto: Fundação Bienal de São Paulo.
Roteiro

Sete artistas da 34ª Bienal para conhecer

Felipe Molitor
22 set 2021, 15h55

Após o forçado adiamento por conta da pandemia, a 34ª Bienal de São Paulo abriu no último dia 4 com ritmo de retomada dos encontros entre a cena artística e grande público, ocupando não apenas o Pavilhão no Parque do Ibirapuera, como também com uma programação integrada às diversas instituições da cidade. Intitulada “Faz Escuro, Mas Eu Canto”, essa edição reúne mais de mil obras de noventa artistas de mais de quarenta países, e fica em cartaz até 5 de dezembro. 

A curadoria de Jacopo Crivelli Visconti — que já foi curador na SP–Arte em edições anteriores —, acompanhado de Paulo Miyada, Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez, ancora-se no conceito de “relação” apresentado pelo pensador martiniquense Édouard Glissant. Em linhas gerais, o filósofo questiona a cristalização das identidades ao compreender que, na medida em que somos afetados pelo outro, é justamente o contato entre as diferenças que forja nosso lugar no mundo.

Acima: Vista da 34ª Bienal de São Paulo, "Faz escuro mas eu canto".
Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

Vista da obra "Educação pela noite" (2020), Clara Ianni, na exposição "Vento". Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.
Obra de Paulo Nazareth no Parque do Ibirapuera. Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

Vista da obra "Educação pela noite" (2020), Clara Ianni, na exposição "Vento".
Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.

Obra de Paulo Nazareth no Parque do Ibirapuera.
Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

Vista das obras de Abel Rodríguez, 2020. Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

Vista das obras de Abel Rodríguez, 2020.
Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

Histórias e conceitos diversos, como a do Sino de Ouro Preto 1 e a vida de João Cândido 2, são apresentados pela curadoria como “enunciados” para agrupar grupos de trabalhos ao longo do percurso expositivo. Além disso, alguns artistas se repetem ao longo do percurso expositivo, gerando novas conexões e sentidos para suas obras.

Selecionamos sete artistas que participam da 34ª Bienal, apresentando um pouco de sua poética e o projeto que exibem nesta edição. Confira:

"Complexo Atlântico - Cordas", Arjan Martins. Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

"Complexo Atlântico - Cordas", Arjan Martins.
Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

Arjan Martins (1960, Rio de Janeiro)

Conhecido principalmente pela prática com o desenho e a pintura, sobre tela ou em muros de Santa Teresa, o artista carioca resgata memórias individuais e coletivas ao associar símbolos náuticos de outros tempos e a história da diáspora africana. Um dos trabalhos inéditos que o artista apresenta na mostra, e que dá outra materialidade para sua pesquisa artística, consiste em uma imensa âncora fixada no pé de uma das colunas do Pavilhão da Bienal, atada por cordas que recortam o espaço.

"Dabucuri no céu" (2021), Daiara Tukano. Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

"Dabucuri no céu" (2021), Daiara Tukano.
Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

Daiara Tukano (1982, São Paulo)

A artista, professora, ativista e comunicadora Daiara Hori pertence ao clã Uremiri Hãusiro Parameri, na região amazônica do Alto Rio Negro. Na 34ª Bienal, Daiara apresenta “Festa no Céu”, um conjunto de quatro pinturas suspensas que representam os pássaros sagrados gavião-real, urubu-rei, garça-real e arara-vermelha. Desprendidas das noções ocidentais sobre a arte, suas obras são regidas pelos valores éticos, estéticos e religiosos do povo Tukano, cruzando fronteiras entre o mundo visível e invisível.

"Nos erguemos ao levantar outras pessoas" (2021), Marinella Senatore. Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

"Nos erguemos ao levantar outras pessoas" (2021), Marinella Senatore.
Foto: Fundação Bienal de São Paulo.

Marinella Senatore (1977, Cava de’ Tirreni, Itália)

A obra inédita “Nos erguemos ao levantar outras pessoas”, realizada sob contexto pandêmico, é resultante do trabalho de imersão e colaboração da artista interdisciplinar com agentes da Cidade Tiradentes, para onde trouxe seu projeto nômade Escola de Dança Narrativa [The School of Narrative Dance]. Sem privilegiar nenhum método em particular, a escola incentiva a troca de conhecimentos, experiências e técnicas de movimento, dança e teatro, com base nas vivências pessoais dos participantes.

"Terraza Vaja V" (2020), Abel Rodríguez. Foto: Cortesia do artista / Fundação Bienal de São Paulo.

"Terraza Vaja V" (2020), Abel Rodríguez.
Foto: Cortesia do artista / Fundação Bienal de São Paulo.

Abel Rodríguez (1944, Cahuinarí, Colômbia)

Sem passar por nenhuma escola de arte, “don Abel” começou a desenhar depois que se mudou para Bogotá, nos anos 2000. Ele passou grande parte da vida na amazônia colombiana, nascido na cultura Nonuya, onde foi treinado para ser um “nomeador de plantas”. Em um exercício transcendental de memória, Rodríguez recria as florestas de sua vida desde cada detalhe pictórico, considerando os grandes ciclos que regem a natureza.

Vista da obra "Educação pela noite" (2020), Clara Ianni, na exposição "Vento". Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.

Vista da obra "Educação pela noite" (2020), Clara Ianni, na exposição "Vento".
Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.

Clara Ianni (1987, São Paulo)

A prática interdisciplinar de Clara Ianni procura comentar criticamente as relações de cor e classe no Brasil, sem perder de vista perspectivas do passado que atuam no presente. Na obra “Educação pela noite”, que faz referência ao emblemático livro “A educação pela Pedra”, de João Cabral de Melo Neto, ela usa bloquinhos de madeira e projetores escolares para jogar com a percepção, projetando sombras e distorções no espaço.

Vista de "Things I couldn't forget No. 6" (2019), Guan Xiao. Foto: Cortesia do artista / Fundação Bienal de São Paulo.

Vista de "Things I couldn't forget No. 6" (2019), Guan Xiao.
Foto: Cortesia do artista / Fundação Bienal de São Paulo.

Guan Xiao (1983, Chongqing, China)

A prática escultórica de Xiao cruza, a um só tempo, a iconografia tradicional chinesa com o avanço tecnológico da indústria e da internet. Através da justaposição de elementos aparentemente contraditórios, como objetos antigos e fragmentos de motores, o artista discute a velocidade do fluxo de informações criando formas abstratas que, mesmo que pareçam vir do futuro ou de outros planetas, poderiam habitar nosso mundo contemporâneo.

Vista da instalação "Corte seco", Paulo Nazareth. Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.

Vista da instalação "Corte seco", Paulo Nazareth.
Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.

Paulo Nazareth (Muitas datas, Watu Nak, Vale do Rio Doce, MG)

Como uma espécie de nômade, Paulo Nazareth percorre diversos lugares pelo mundo em ações que discutem questões como identidade, história e o papel da linguagem. Com um dos trabalhos mais potentes dessa edição da Bienal, o artista instalou pelo Parque do Ibirapuera outdoors gigantes que homenageiam personagens pouco celebrados do Brasil, como Carlos Marighella, João Cândido e Marielle Franco, levantando reflexões sobre a que servem os monumentos públicos.


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Felipe Molitor é jornalista e crítico de arte, parte da equipe editorial da SP–Arte.

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