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O que é

O que é: curadoria

Giovana Christ
27 out 2020, 14h35

A profissão de curador artística é recente quando comparada com tantas outras. Inicialmente descrito no Brasil como “diretor artístico”, o papel do curador — responsável pela seleção das obras em uma exposição — despontou na década de 1950 com o crescimento do mercado de arte, e sua ascensão recebe destaque marcado na década de 1980.

Os primeiros cursos profissionalizantes de curadoria surgiram no Royal College of Art, em Londres, e no CCS Bard, em Nova York, no início dos anos 1990. Ambos os cursos tradicionais ainda existem e são muito respeitados no currículo de um profissional. Mas o caminho da formação acadêmica em artes não é o único jeito de se aproximar do papel de curador nos dias de hoje. Thierry Freitas, curador independente (explicaremos o que isso significa em breve) começou sua carreira no jornalismo, quando escrevia sobre artes visuais, e depois partiu para a história da arte, onde teve uma formação mais próxima da curadoria.

“Acredito que na curadoria, como em qualquer outra profissão, a formação teórica seja essencial, mas o interesse em ver arte, visitar exposições e estar atento ao que é novo também são pontos fundamentais”, comenta o curador.

Fernanda Pitta, atualmente no time de curadores da Pinacoteca do Estado de São Paulo, começou na sua formação como historiadora e a partir dela, passou a pesquisar mais sobre manifestações artísticas como forma de elaboração da experiência histórica. “Foi, e é, uma formação muito prática, que depende desse corpo a corpo com as obras, do contato com os artistas, da visita à exposições, museus, coleções, colocando essas experiências em perspectiva.” Não é difícil encontrar curadores que vieram da arquitetura, engenharia ou que traçaram caminhos imprevisíveis até a profissão — o que traz uma importante gama de diferentes olhares nas exposições de arte.

Na curadoria, existem dois caminhos principais que fazem com que as atividades exercidas pelo profissional sejam distintas. Dentro de instituições o curador, ou, mais usualmente, o time curatorial, desempenha atividades que selecionam quais exposições externas passarão pelo espaço ou não, montam mostras próprias a partir do acervo e de peças emprestadas, confeccionam a programação cultural do espaço e, principalmente, estudam o acervo existente para realizar compras, receber doações e organizá-los para sanar seus pontos fracos e evidenciar os fortes. “Há especificidades do trabalho institucional que não entendo como dificuldades, necessariamente, mas como aspectos de um tipo de trabalho que reivindica um compromisso com um projeto público, coletivo e de uma instituição. Entender sua história, sua missão e, claro, conhecer o seu acervo é, nesse aspecto, fundamental. É um compromisso que se constrói a longo prazo, distinto do trabalho de um curador independente, e talvez mais anonimamente”, diz Pitta.

Outra possibilidade é a curadoria independente, onde o profissional não tem um vínculo fixo com uma instituição e que comumente trabalha em projetos que se ligam mais à sua área de expertise, em assuntos que tangem sua pesquisa. Esses curadores fazem exposições em diversos lugares, como centros culturais, galerias de arte, espaços independentes entre outros. Thierry Freitas comenta que “Apesar da possível liberdade que uma curadoria independente apresenta (hoje também ampliada pela facilidade de iniciativas digitais), desenvolver e articular um projeto de maneira autônoma é assumir, muitas vezes, uma grande dificuldade em conseguir apoio financeiro ou institucional.” Muitas vezes o curador, além de tudo, é responsável por conseguir o dinheiro e viabilizar a exposição, o que exige capacidade de venda e uma boa rede de contatos para levantar os fundos necessários.

Independente ou desenvolvendo um trabalho dentro de uma instituição, o papel principal dos curadores é construir uma narrativa contada através de obra de arte e apresentá-las para o público de um jeito em que faça sentido, passando para ele uma visão diferenciada da história da arte e costurando obras que podem até não conversar entre si de uma maneira óbvia, mas que conseguem se conectar dentro do contexto.

Os curadores também são responsáveis por produzir o registro das exposições, seja em forma de catálogo, site ou outro meio que marque sua existência na história da arte e como importante material de estudos futuros.

Visto que um curador tem o poder de apresentar visões diferentes da história da arte para o público, é inevitável pensar que também é seu papel inserir artistas novos ou apagados pela narrativa tradicional da arte em exposições e trazê-los aos holofotes. Um dos pontos mais discutidos nos dias de hoje em curadoria é a inserção da diversidade nas mostras e, principalmente, nos acervos de grandes instituições. Isso claramente é facilitado pela maior diversidade no time de curadores, que idealmente inclui uma diversidade de raças, orientações sexuais e gêneros.

“Penso que uma postura anti-racista, antimachista e decolonial são compromissos de uma atitude crítica para qualquer pesquisador ou pesquisadora. Todos e todas que entendem a produção de conhecimentos, de saberes e de posturas como um exercício de transformação do mundo têm essas questões como constitutivas de sua reflexão, que nunca pode se separar da prática”, diz a curadora Fernanda Pitta.


Giovana Christ é estudante de jornalismo (ECA–USP), entusiasta do carnaval brasileiro e apaixonada por todos os tipos de manifestações culturais. Faz parte da equipe editorial da SP-Arte.

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