Conheça a instituição de arte dedicada à fotografia histórica e contemporânea da África

14 set 2018, 11h

A Coleção Walther é hoje uma das principais instituições de arte dedicadas ao estudo e compreensão da fotografia histórica e contemporânea. Suas principais atividades incluem, além da formação do acervo, uma pesquisa aprofundada sobre o que vem sendo produzido ao redor do mundo – em particular na África –, publicações na área e grandes exposições itinerantes.

A fotografia e a videoarte de origem africana sempre foram um ponto forte da coleção do alemão Artur Walther. “Viajei muitas vezes para a Ásia e a África. Visitei artistas onde estivessem: galerias, curadores independentes, museus, estudiosos, dealers, escritores e espaços de exposição. Meu método de colecionar é muito pessoal”, comenta. O colecionador reforça que, desde os anos 2000, os artistas africanos, especialmente aqueles de cidades em rápido crescimento, passaram a colocar temas como identidade, gênero e mudanças sociais pós-coloniais como foco de suas criações.

Em 2004, Walther embarcou em um programa de viagens pelo continente africano com o curador Okwui Enwezor. A viagem foi o pontapé para uma série de grandes exposições. O projeto inaugural – “Events of the Self: Portraiture and Social Identity” [Eventos do eu: retrato e identidade social] – reuniu trabalhos de três gerações de artistas, percorrendo momentos variados da história colonial e pós-colonial da África. A exposição – aberta em 2010, na sede da coleção, em Neu-Ulm, sul da Alemanha – considerou a evolução nos retratos e na maneira como os artistas se enxergam em períodos de transição social e política, do início do século XX aos dias atuais.


Outras duas mostras de fotografia africana foram realizadas logo em seguida. “Appropriated Landscapes” [Paisagens apropriadas], em 2011, examinou como a arquitetura e o planejamento urbano expressaram a ordem social e a ideologia do apartheid na África do Sul. Nessas paisagens, é possível ver o reflexo das experiências de migração, colonialismo, guerra e industrialização, para além de suas características estéticas. Já “Distance and Desire: Encounters with the African Archive” [Distância e desejo: encontros com o arquivo africano], de 2013, explorou a fotografia histórica do sul do continente, composta por imagens de arquivo de artistas africanos. A exposição ofereceu novas perspectivas sobre o legado das visões antropológica e etnográfica – reimaginando as dimensões poéticas e políticas desse recorte, suas histórias e significados em mudança.

Desde a abertura, em 2011, o New York Project Space, campus da Coleção Walther nos Estados Unidos, recebeu quatorze exposições voltadas à fotografia e à videoarte da África. O programa incluiu, entre outros, apresentações monográficas de Rotimi Fani-Kayode, Samuel Fosso, Santu Mofokeng e Jo Ractliffe; exposições comparativas com o trabalho de fotógrafos como Seydou Keïta e August Sander; e investigações sobre a fotografia vernacular, incluindo imagens do Gulu Real Art Studio, em Uganda, e do Singarum Jeevaruthnam “Kitty” Moodley Studio, da era do apartheid na África do Sul.


Por fim, a exposição “Recent Histories: Contemporary African Photography and Video Art” [Histórias recentes: fotografia e videoarte africanas contemporâneas], realizada em 2017 na sede alemã do acervo, trouxe uma amostra abrangente da fotografia e da videoarte africanas até a atualidade. Quatorze artistas contemporâneos, nascidos durante a década de 1970, investigaram questões sociopolíticas urgentes, como identidade e pertencimento social, migração, genealogia e as heranças do colonialismo, além de experiências pessoais.

“Quero conhecer os artistas, entender o contexto do seu trabalho e voltar várias vezes para acompanhar a evolução das obras. Colecioná-las em profundidade foi um passo difícil, além do que era familiar para mim. Batalhei com cada uma das fotos, porque era algo completamente novo e estranho. Tinha que sair de mim, de minhas ideias preconcebidas, fronteiras e limites. Meus sentidos e emoções não funcionavam nessas culturas”, elabora o colecionador.

 

Texto publicado na segunda edição da Revista SP-Arte, em agosto de 2018.

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Artur Walther é colecionador de arte alemão e participou do Talks, ciclo de palestras sobre fotografia, na SP-Arte/Foto/2017.

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