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Interview

Enciclopédia negra: pesquisadoras indicam personalidades

Marina Dias Teixeira
25 May 2021, 6:14 pm

Reescrever nossa história — é essa uma das grandes reivindicações do movimento negro, cuja voz ecoa cada vez mais forte e ganha os holofotes especialmente no mundo pandêmico. O projeto ambicioso da “Enciclopédia negra”, assinado por Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz, não só cumpre a função de reescrever uma história apagada por quase cinco séculos, como promove sua representação visual. A “Enciclopédia Negra” ganha assim dois corpos, distintos e complementares: um livro que reúne 417 verbetes de 550 personalidades negras, e uma mostra, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, que exibe 103 trabalhos, assinados por 36 artistas afro-brasileiros. 

Múltiplas são as personalidades que ganharam biografias e retratos, como contam os autores na introdução do livro: “Foram pessoas que se agarraram ao direito à liberdade; profissionais liberais que romperam com as barreiras do racismo; esportistas que desafiaram as amarras de seu tempo; mães que lutaram pela alforria de suas famílias; professoras que ensinaram seus alunos a respeito de suas origens; indivíduos que se revoltaram e organizaram insurreições; curandeiros e médicos que salvaram doentes; músicos que criaram e expandiram maneiras diferentes de se fazer cultura; ativistas que escreveram manifestos, fundaram associações e jornais; líderes religiosos que reinventaram outras Áfricas no Brasil.” Apagados por uma historiografia tradicionalmente branca, eurocêntrica e, por isso, excludente, esses personagens deixam de ser números e estatísticas para, finalmente, adquirirem singularidade e individualidade na reconstrução de seu passado de existência, resistência e reinvenção.

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O critério para a escolha de personagens a serem retratados pelos artistas convidados foi a necessidade de conferir representação imagética àquelas personalidades sobre as quais não restaram imagens, “fazendo com que tenhamos, daqui para a frente, uma ‘pinacoteca negra’ e uma imaginação mais generosa e diversificada acerca da história do Brasil.”

Neste contexto, convidamos algumas pesquisadoras e pesquisadores a indicarem personagens e respectivas representações, justificando essas escolhas e a importância de um projeto tão urgente como aquele apresentado pela “Enciclopédia Negra”. Com a palavra, Deri Andrade, Guilherme Teixeira e Janaina Machado.

Elian Almeida "Catarina, Josefa e Vitória", 2020 (Foto: Felipe Berndt)

Deri Andrade escolheu Catarina, Josefa e Vitória, retratada pelo artista Elian Almeida.

Marina Dias Teixeira : Indique uma obra do livro e conte um pouco sobre a importância de dar rosto à personagem retratada no trabalho escolhido.

Deri Andrade : Em suas imersões, Elian Almeida cria uma alegoria do nosso tempo com seu trabalho pictórico. De uma sensibilidade ímpar, o artista imagina essas três mulheres africanas que atuaram no Sul do país, Catarina, Josefa e Vitória, como rostos dignos de uma revista de moda, estabelecendo uma relação desses corpos negros com nossa sociedade contemporânea. Esse tema, aliás, é recorrente na poética de Elian, que tem construído uma narrativa em torno das discussões do corpo negro inserido socialmente em uma sociedade racista. Nas telas, observamos a figura de três mulheres com vestimentas opulentas em branco e vermelho, portando joias que podem ser percebidas nos pescoços e punhos. Ao passo que o artista ligeiramente apaga seus rostos, enfatiza suas presenças na construção de um quadro rico em detalhes, ampliando certa relação imagética direta com o espectador diante de sua obra.

Detalhe da obra.

Marina Dias Teixeira : O que a realização de um projeto como a “Enciclopédia Negra” significa para você, tanto a nível pessoal, como institucional/profissional?

Deri Andrade : A Enciclopédia Negra é um fato marcante do nosso tempo. Na mesma força de iniciativas como a criação do Projeto Afro, do qual encabeço, a publicação e a exposição da Enciclopédia em um dos mais importantes museus do país, a Pinacoteca de São Paulo, são frutos de um desejo por mudanças significativas no percurso histórico que insistiu em invisibilizar nossas vozes. Esses nomes, assim como os/as/es artistas mapeados pelo Projeto Afro, por vezes foram simplesmente apagados dos anais bibliográficos. Assim, faz-se necessário resgatar essas diversas histórias e proporcionar um novo espaço para descoberta e legitimação da nossa memória.

Detalhe da obra.

Deri Andrade, alagoano radicado em São Paulo, é pesquisador, jornalista e curador independente. Mestrando em Estética e História da Arte (Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo), especialista em Cultura, Educação e Relações Étnico-raciais (CELACC, Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação USP) e formado em Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo (Centro Universitário Tiradentes, Unit). Interessa-se pelo conceito de arte afro-brasileira, investigando a correlação entre conteúdo e forma presente nas poéticas de artistas negros/as/es. Desenvolveu a plataforma Projeto Afro, resultado de um mapeamento de artistas negros/as/es em âmbito nacional, por entender que a arte é um importante instrumento catalisador na luta antirracista. Tem passagens por instituições culturais, entre elas o Museu de Arte Moderna de São Paulo (atualmente), a Unibes Cultural e o Instituto Brincante.

Micaela Cyrino "Malunguinho é rei! Malunguinho é rei!", 2020

Guilherme Teixeira escolheu Malunguinho, retratado pela artista Micaela Cyrino.

Marina Dias Teixeira : Indique uma obra do livro e conte um pouco sobre a importância de dar rosto à personagem retratada no trabalho escolhido.

Guilherme Teixeira : Malunguinho, no retrato da artista Micaela Cyrino, é uma metade ouro, outra metade pele e portanto história. Nascido no mesmo passo em que a artista descobria a existência da Jurema Sagrada e frequentava, em suas idas a recife, a Festa de Reis, na Casa Das Matas de Reis Malunguinho, o “Malunguinho” de Cyrino traz no seu movimento retratístico não-usual a presença do líder quilombola da Pernambuco oitocentista; um líder onde as ideias de realidade e lenda se misturavam; um líder cujos cantos e tambores ressoam até hoje o modo como sua passada abria e abre , caminhos. Seja representado na imagem do africano João Batista (ou na de São João Batista em movimentos de sincretismo), Malunguinho foi um ao mesmo tempo que foi muitos, multidão, “mestre, caboclo e exu”. Para Cyrino, “Malunguinho” é também ouro pois, como se canta pelas ruas de Recife “Malunguinho é Rei! Malunguinho é Rei!”.

Detalhe da obra.

Marina Dias Teixeira : O que a realização de um projeto como a “Enciclopédia Negra” significa para você, tanto a nível pessoal, como institucional/profissional?

Guilherme Teixeira : Um projeto como a Enciclopédia Negra demonstra a deficiência em diversos níveis que ainda existe na representação histórica da população preta no Brasil. Vejo nesse projeto um primeiro grande passo importante, porém não final, nessa busca seminal da herança e ancestralidade do povo preto. Que este seja o primeiro passo dessa construção que sabemos imensa, e que o acesso ao conteúdo da Enciclopédia reverbere em todas as escalas da sociedade que necessitem estar em contato com ele, não apenas em alguns círculos intelectual e sociais específicos.

Detalhe da obra.

Guilherme Teixeira é escritor, curador e editor baseado em São Paulo, Brasil. Em sua pesquisa, fala sobre enunciações e os outros nomes que as coisas demandam hoje. Entre as instituições com as quais já trabalhou destacam-se CCSP, Videobrasil e Pro Helvetia, além de galerias e escritórios de consultoria. Entre suas curadorias destacam-se “PAREDÃO” (CCSP), “Ontem Foi Um Dia Longo” (MARP), “O Grande Susto” (C.C.Espaço), “Ruído e Ausência Contínuos” (Galeria Sancovsky), “A Imensa Preguiça” (Galeria Sancovsky), “Notas sobre alguma disfuncionalidade” (Homeostasis.Lab), entre outras. Teixeira é também editor do periódico O TURVO.

Renata Felinto "Ambrosina", 2020

Janaina Machado escolheu Ambrosina, retratada pela artista Renata Felinto.

Marina Dias Teixeira : Indique uma obra do livro e conte um pouco sobre a importância de dar rosto à personagem retratada no trabalho escolhido.

Janaina Machado : Do plano simbólico, o projeto Enciclopédia Negra além de dar a saber sobre os protagonismos negros ao longo dos processos sócio-culturais brasileiros, também traz à luz presenças negras por meio da representação visual. Destaco a representação de Ambrosina realizada pela artista visual e professora universitária Renata Felinto. Felinto imprime a partir da aquarela um rosto sobre a personagem histórica Ambrosina, mulher negra que experienciou o regime de escravidão durante o século 19 e vivenciou toda sorte de injustiças cometidas contra pessoas negras, inclusive mulheres negras, durante esse regime. De acordo com relatos da historiografia, Ambrosina atuou como ama de leite em Taubaté (SP) e foi acusada de assassinar Benedito, filho dos patrões, tendo preferido amamentar seu próprio rebento, também de nome Benedito. No entanto, ela se defendeu na justiça.

Por meio da construção da imagem, a artista torna visível o que fora invisibilizado pelas narrativas mestras. Eu situaria a importância desse gesto artístico a partir da perspectiva contra-epistemicide. Felinto, a partir da aquarela, dá indícios visuais de sua existência de Ambrosina. Imprime um gesto de cronista visual que traz à superfície a presença na história. Se na linguagem do rap, dar a ver e a saber se faz a partir do discurso sustentado por uma linguagem que explora a possibilidade de síntese atravessada por palavras inflamadas que vão apresentando personagens e construindo imagens, na prática visual esse gesto também se expressa de forma sintética em que o simbólico ganha força para falar sobre o mundo. Trago esse paralelo com a linguagem do rap para dizer que a obra de Renata Felinto sobre a representação de Ambrosina bate forte em mim como bate um rap dos Racionais MC’S, ou seja, ao dar rosto a personagem, ela aponta uma dignificação sobre mulheres negras no processo histórico brasileiro. A obra de Renata Felinto possibilita que Ambrosina faça parte da composição das rostidades históricas. Assim, Felinto nos apresenta Ambrosina esteticamente bonita, maternal e afetiva, ou seja, humaniza a sua experiência social.

Detalhe da obra.

Marina Dias Teixeira : O que a realização de um projeto como a “Enciclopédia Negra” significa para você, tanto a nível pessoal, como institucional/profissional?

Janaina Machado : A construção de uma enciclopédia negra num período político-cultural sistematizado por tensões sociais e retrocessos de toda ordem se constitui como uma possibilidade de justiça cognitiva e reparação pelas ausências e defasagens alimentadas e promovidas pelo racismo anti-negritude vigente no país.

A pedagoga Nilma Lino Gomes nos lembra que a educação é um dos principais campos de luta dos movimentos sociais no Brasil. Para ela, “a educação é direito social que deve garantir nos processos, políticas e práticas educativas a vivência da igualdade social, da equidade e da justiça social aos diferentes grupos sociais e étnico-raciais”. Dito isso, eu acrescento que vislumbrar a organização de uma enciclopédia negra é possibilitar reparação e justiça cognitiva. Para mim, esta enciclopédia se constitui como uma ferramenta epistêmica, de enfrentamentos e confrontos diante das blindagens em torno do reconhecimento das lutas, contribuição e resistências da população negra ao longo do processo histórico do país.

Do ponto de vista contra-epistemicida esta enciclopédia desafia a forma social brasileira que se expressa pela negação da experiência sócio-cultural negra a partir de seu protagonismo ativo, altivo e insurgente em várias frentes da dinâmica social nacional. Dessa maneira, compreendo essa organização documental como um compilado de referências que trazem à superfície movimentações que se expressaram e reverberam de forma desveladora as complexidades negrobrasileiras em suas formas ética e estética. É importante apontar o teor autorevelativo dessa enciclopédia, visto que as informações, narrativas e imagens que ela apresenta revela uma presença no país que costuma ser sonegada e confiscada. A Enciclopédia negra revela uma sintaxe que constrói outros sentidos para se entender o país, põe na esfera do jogo sócio-histórico sujeitos e sujeitas que foram ignorados por uma dominância epistêmica da ignorância calculada. Por este viés se faz imprescindível dizer que esta sistematização autorevelada engajada pela enciclopédia propõe uma gramática sócio-histórica expandida. Ao revelar outras formas de presença no cenário nacional, porém em relação verticalizada com a história dominante, seja em sua expressão ética e estética , compreendo que esta enciclopédia nos provoca tanto a olhar às práxis negras como dinâmicas e contínuas no país, como também estremece às nossas certezas e olhares a respeito das experiências negras-brasileiras na história nacional. É neste sentido que acredito que essa sistematização aponta para uma desconstrução de uma gramaticalização dominante, deturpada e que se fazia incompleta, cujas regras coloniais e racistas sequestrou repertórios socioculturais da paisagem dos processos históricos do país.

Do ponto de vista da minha atuação como profissional da educação no contexto da arte e, também como pesquisadora das relações étnico-raciais, a sistematização de uma enciclopédia negra corrobora para o aprofundamento de reflexões críticas e instrumentalização desse conhecimento e construção de práticas pedagógicas em torno do engajamento de epistemologias negro-brasileiras. Entendo que o combate ao racismo na sociedade brasileira precisa alinhar esforços de enfrentamento à uma prática curricular restritiva e desumanizadora que consiga inscrever os sujeitos negros e negras em seus lugares legitimos de sujeitos históricos que foram alijados pela práxis racista a ocuparem a margem da história. Como sabemos, o racismo anti-negritude ao longo de seu processo histórico se expressou a partir da desumanização de africanos e africanas, negando a sua participação como sujeitos na história da humanidade. Com isso, quero dizer que o epistemicídio, enquanto mecanismo estratégico da tecnologia do racismo se faz tão letal e eficiente quanto o genócídio, ou seja, essa prática e artimanha de dominação racial se expressa como diria o dj Kl Jay dos Racionais MC’S, “a morte vem antes do tiro”, isto é, o soterramento proposital de referências intelectuais, filosóficas, culturais e políticas de negros e negras contribui para o arranjo e manutenção das desigualdades raciais. É um contributo da estratégia rasteira que conformou as relações raciais a partir do contato colonial e que se expressa também pela negação do conhecimento do outro.

Diante de tudo isso, é importante salientar que projetos como a enciclopédia negra abrange os escopos da importância e da urgência, sobretudo se precisarmos a emergência de confrontarmos paradigmas civilizatórios reducionistas pautados na negação da humanidade do outro. Ou seja, é preciso combater o epistemicídio que ronda as relações humanas sob regimes ancorados em modelos etnocêntricos, de exploração e subalternização do outro.

O repertório de narrativas apresentadas pela enciclopédia negra recoloca na arena discursiva e imagética a ampla contribuição negra no espaço da produção de conhecimento. Doutro lado, destaca-se que essa sistematização aponta para práticas históricas de invisibilização da população negra brasileira e com isso, aponta os efeitos dessa negação como a defasagem sobre o conhecimento amplo sobre a própria história do país. Defasagem esta que verificamos nos espaços institucionais, seja nos espaços de ensino, de educação em museus e instituições culturais, espaços das artes, nos diversos campos do conhecimento e na prática das relações sociais.

É interessante dizer que a Enciclopédia Negra vem ocupar a lacuna que foi construída por práticas epistemicidas fundadas no fomento e propagação de narrativas únicas, parciais e viciadas a respeito dos processos históricos e epistemológicos de silenciamentos dos sujeitos negros e negras.

Sob este viés a Enciclopédia Negra fornece olhares renovados e provoca outra qualidade de atenção sobre a história do país. Ressalto que a qualidade de atenção sobre as presenças negras no percurso histórico nacional põe em evidência uma radicalização espaço-temporal que também se faz chave para compreensão do país, já que apresenta a interlocução de sujeitos negros e negras em seu processo constituído no pensamento nacional. A enciclopédia dessilencia vozes e presenças negligenciadas, ela dá a ver e a saber sobre a história. Contudo, essa sistematização contribui para alargar o conhecimento sobre a história do país e fundamentar a promoção plural das perspectivas teóricas, estéticas e da experiência social que têm o agenciamento negro-brasileiro como ator nos processos de saberes ético, estéticos, educativos e políticos no seio social.

 

GOMES, 2011.

Detalhe da obra.

Janaina Machado é educadora, pesquisadora e poeta. Graduada em Letras-Português e Linguística pela USP, estuda o pensamento político negro dos Racionais e as poéticas políticas da negritude no contexto da arte contemporânea no Programa de Estudos Étnico e Africanos-Pós Afro pela Universidade Federal da Bahia-UFBA. Atua como assessora do programa de mediação da Fundação Bienal. Desenvolve pesquisa no campo da temática étnico-racial na mediação cultural e formação de professores e no campo da performance da negritude e da crítica negra artística contemporânea. Publicou a crítica “Marca-dor de Stênio Soares: um corpo denúncia” (2016) na Revista Correio das Artes e o artigo “Ações Performáticas Negras: A Gramática Corporal Negra Contestatória como ferramenta contra-hegemônica” na revista Rascunhos: Dossiê Poéticas Negra: Epistemologias, Diálogos e Escrituras pela EDUFU (2020) , os textos “Pimenta é vida” na Coletânea de Literatura Negra Feminina Louva Deusas e o texto “Moço” na 3ª Coletânea de Literatura e Arte Feminista Negra intitulada Erupções Feministas Negras.

Confira a primeira parte da matéria, com entrevistas de Amanda Carneiro, Ana Lira, Bianca Leite e Hanayrá Negreiros.


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Marina Dias Teixeira graduated in Media and Cultural Studies at the University of the Arts London (UAL). She has worked as part of Fundação Bienal de São Paulo, Sotheby’s Brazil and SP–Arte teams. Today, she is Project Coordinator at Act., art consulting bureau based in São Paulo. In parallel, she researches decolonial theories and the production by artists of the African Diaspora in the contemporary arts circuit, with a focus on black women. Since 2020, she collaborates for Casa Vogue Brazil, with a close look on black artists and their production.

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