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Conservação

Conservação preventiva: A melhor opção para manter o valor e bom estado de acervos e obras de arte

Stephan Schäfer
18 out 2021, 20h40

Umidade, luz excessiva, insetos, falhas nas instalações elétricas, falta de sistemas de segurança e maus cuidados podem comprometer a vida útil de um acervo ou uma obra de arte e afetar diretamente seu valor de mercado.

A conservação preventiva é uma metodologia que visa reduzir ou impedir perdas, danos e degradação em acervos e coleções com base na identificação e quantificação dos chamados agentes de degradação e riscos.

Quando se fala em objetos de arte, existem dois fatores, intrinsecamente ligados, que devem ser levados em consideração na determinação de seu valor pelos colecionadores e amantes das artes. O primeiro é o valor histórico-cultural; o segundo diz respeito ao estado de conservação da obra, que afeta diretamente o primeiro.

A higienização e limpeza correta de obras de arte tem um importante aspecto de conservação preventiva pois a sujidade atrai umidade e tipicamente tem um pH ácido ou alcalino (dependendo da sua composição) que favorece e proliferação de micro-organismos e a oxidação.

A higienização e limpeza correta de obras de arte tem um importante aspecto de conservação preventiva pois a sujidade atrai umidade e tipicamente tem um pH ácido ou alcalino (dependendo da sua composição) que favorece e proliferação de micro-organismos e a oxidação.

Em meu ateliê de conservação e restauro em São Paulo, ouvi incontáveis lamentações de clientes que, por desconhecimento de técnicas preventivas, abreviaram ou prejudicaram a vida útil de seus objetos diletos. A degradação do valor histórico refletia-se na sua desvalorização monetária, comprometendo seu próprio estatuto de obra de arte. Se atentássemos para o fato de que a natureza dos objetos lhes dota de especificidades próprias, os princípios básicos da conservação preventiva estariam automaticamente sendo respeitados.

Como exemplo, deve fazer parte da conservação preventiva estabelecer rotinas periódicas de avaliação de cada obra para detectar um eventual problema o mais cedo possível e assim reagir a tempo.

Craquelé e desprendimentos pictóricos podem ser resultado de incompatibilidade material, mas na maioria dos casos é causado ou acelerado por constantes variações de temperatura e umidade. Uma das medidas mais eficazes de reduzir o impacto direto de tais variações em pinturas sobre tela é a proteção permanente do verso com materiais como policarbonato alveolar e boa vedação.

Craquelé e desprendimentos pictóricos podem ser resultado de incompatibilidade material, mas na maioria dos casos é causado ou acelerado por constantes variações de temperatura e umidade. Uma das medidas mais eficazes de reduzir o impacto direto de tais variações em pinturas sobre tela é a proteção permanente do verso com materiais como policarbonato alveolar e boa vedação.

Existem dez fatores principais a serem avaliados em questões de segurança e prevenção de riscos às suas obras de arte, sejam elas num acervo privado, numa galeria ou num museu:

1

Evitar exposição imprópria e excessiva à luz e radiação UV e artificial. Sempre buscar emoldurar suas obras com vidro museu, que além de possuir proteção U.V., também possui tecnologia antirreflexo incomparável a qualquer outro tipo de vidro, sendo quase imperceptível. Para acervos maiores e exposições recomendamos a instalação de películas de proteção solar incolor nos vidros externos do local. Além disso existem cortinas, brises e venezianas para reduzir ou eliminar luminosidade excessiva.

2

Evitar altos índices de umidade e maresia, pois são esses os principais fatores que provocam a proliferação de bolor e degradação acelerada. Em peças de metal podem causar corrosão e oxidação profunda. Porém, existem soluções de conservação preventiva através do isolamento das obras do meio ambiente na forma de molduras, caixas expositoras e envelopes estanques que protegem a longo prazo dos fatores adversos. Para metais existem produtos que impedem a corrosão que ficam imperceptíveis.

A proliferação e colonização por fungos (bolor) depende em primeiro lugar de elevados níveis umidade relativa acima de 65%. Tendo um controle de umidade, por exemplo através do uso de desumidificadores e ventilação controlada pode se evitar este notório problema em regiões tropicais. Porém o controle começa com o monitoramento, ou seja, a medição para saber qual o nível de umidade ao longo do ano. Por isso se recomenda o uso de data-loggers em todo acervo que medem constantemente a temperatura e umidade e gravam os dados em intervalos de meia hora (por exemplo) que depois podem ser baixados para um computador permitindo a sua visualização/interpretação.

A proliferação e colonização por fungos (bolor) depende em primeiro lugar de elevados níveis umidade relativa acima de 65%. Tendo um controle de umidade, por exemplo através do uso de desumidificadores e ventilação controlada pode se evitar este notório problema em regiões tropicais. Porém o controle começa com o monitoramento, ou seja, a medição para saber qual o nível de umidade ao longo do ano. Por isso se recomenda o uso de data-loggers em todo acervo que medem constantemente a temperatura e umidade e gravam os dados em intervalos de meia hora (por exemplo) que depois podem ser baixados para um computador permitindo a sua visualização/interpretação.

3

Armazenar ou expor suas obras em locais com temperaturas de 18 a 25 graus Celsius, e sem muita oscilação. O calor (temperaturas elevadas) acelera a degradação de praticamente toda a matéria orgânica como telas, papeis, têxteis e outros e deve se evitar sempre que possível. A instalação de um sistema de ar-condicionado pode ajudar neste sentido, mas é importante saber que o mesmo deve ficar ligado permanentemente, dia e noite, o ano todo!!! Ar-condicionados ligados de dia e desligados a noite causam variações drásticas de temperatura e umidade podendo ocasionar umidade por condensação. Ou seja, ar-condicionados não ligados constantemente são nada benéficos e aceleram a degradação!

4

Verificar com frequência o encanamento e a condução da água no local para evitar possíveis vazamentos e enchentes. Evitar instalar obras de arte em paredes onde há encanamentos. Além disso é recomendável armazenar sua obra a pelo menos vinte a trinta centímetros do chão. Caixas de água podem transbordar com boias encantadas e merecem uma revisão periódica preventiva!

5

Verificar os riscos de fogo e incêndio com frequência, principalmente em relação a falhas nas instalações e em aparelhos elétricos como ar-condicionados. Os casos mais recentes no Museu Nacional da República, na Notre Dame e no armazém do Taboão da Serra (SP) que guardava obras de arte mostram claramente que o risco mais devastador e maior é o de incêndio, que em 90% dos casos é causado por falhas nas instalações ou em aparelhos elétricos.

Imagem de uma tela carbonizada na parede de uma sala onde se encontrava uma importantíssima coleção de arte após incêndio causado por um curto-circuito num ar-condicionado antigo. Inspeções periódicas e a avaliação de riscos que fazem parte de um programa eficaz de conservação preventiva podem muitas vezes evitar ou reduzir drasticamente que desastres como estes aconteçam.

Imagem de uma tela carbonizada na parede de uma sala onde se encontrava uma importantíssima coleção de arte após incêndio causado por um curto-circuito num ar-condicionado antigo. Inspeções periódicas e a avaliação de riscos que fazem parte de um programa eficaz de conservação preventiva podem muitas vezes evitar ou reduzir drasticamente que desastres como estes aconteçam.

6

Verificar a qualidade do ar, e até mesmo poeira, sempre mantendo o ambiente e as superfícies das obras de arte limpos. Porém a limpeza não é algo trivial e deve ser executada por conservadores ou restauradores profissionais. Limpezas efetuadas por leigos com técnicas ou produtos inadequados podem causar danos irreversíveis ou mesmo eliminar elementos da obra.

Detalhe de uma serigrafia com uma densa camada de sujidade e colonização por fungos. Neste caso, a sujidade proporcionou condições mais favoráveis a proliferação dos fungos e assim fica evidente, que a limpeza tem um propósito importante no sentido da conservação preventiva.

Detalhe de uma serigrafia com uma densa camada de sujidade e colonização por fungos. Neste caso, a sujidade proporcionou condições mais favoráveis a proliferação dos fungos e assim fica evidente, que a limpeza tem um propósito importante no sentido da conservação preventiva.

7

Prevenir o ambiente contra pragas, principalmente de insetos xilófagos (como cupins e brocas) e bibliófagos. Caso notar a presença de pelotas fecais, pó de qualquer inseto ou os característicos orifícios, isolar a obra com plástico bolha e buscar tratamento imediato.

Recomendamos altamente a implementação de um programa de controle integrado de pragas como metodologia eficaz de prevenção de infestação e monitoramento. Dica: nos primeiros dias úmidos e quentes da primavera ao entardecer acontecem as revoadas dos cupins alados que são os reprodutores (também chamados de siriris, aleluias ou cupins voadores) procurando fundar novas colônias e voam em direção a luz como é possível observar nas luminárias de rua e muitas vezes na própria casa. Nestes dias deve se fechar muito bem as portas e janelas e se possível evitar ligar a luz dentro de casa para não atrair os insetos. Os cupins que pousam, logo o soltam as asas em busca de um objeto palatável de madeira ou outra matéria de celulose para criar seu ninho novo. Assim começa uma nova infestação que muitas vezes passa despercebida até o momento em que se descobre áreas ocas, pelotas fecais ou os característicos caminhos na forma de túneis na parede dos cupins subterrâneos.

Pelotas fecais de cupins de madeira seca (Cryptotermes brevis) caindo do chassi de uma pintura sobre tela. Em casos como este deve se recorrer ao processo de desinfestação atóxica sem uso de qualquer produto em forma liquida e gases tóxicos!

Pelotas fecais de cupins de madeira seca (Cryptotermes brevis) caindo do chassi de uma pintura sobre tela. Em casos como este deve se recorrer ao processo de desinfestação atóxica sem uso de qualquer produto em forma liquida e gases tóxicos!

8

Procurar instalar e manusear/transportar suas obras com equipes especializadas em obras de arte. Nunca pendurar obras de arte com fio de nylon, algodão ou pregos de porta retrato. Sempre usar buchas e parafusos ou sistemas profissionais de fixação, de preferência com mecanismo antifurto. Sempre usar veículos com baú fechado e transportar telas na posição vertical e não deitadas.

9

Se prevenir contra crimes e vandalismo. Portas anti-arrombamento e sistemas de segurança ligados a uma central com câmeras em locais estratégicos e gravação em nuvem ou local externo. Além disso o seguro de obras de arte é uma maneira de evitar a perda monetária, mesmo se uma obra se perde ou for danificada.

10

Finalmente, ficar atento(a) a negligências quanto aos cuidados das obras e o controle do acervo. Sempre saber onde está localizada, ter sua ficha técnica e histórico de propriedade em mãos, verificar se apresenta primeiros sinais de degradação, bolor ou craquelamento, entre outros.

E mais uma dica: Para pinturas sobre tela existe um consenso internacional que a instalação correta de uma proteção permanente do verso é a medida singular mais eficaz de conservação preventiva por vários motivos. São elas:

Redução das alterações repentinas de umidade e temperatura pelo verso da tela, assim diminuindo a sua dilatação e contração do tecido, uma das principais causas de craquelê e desprendimentos pictóricos.

Criação de um colchão de ar entre a tela e o painel no verso que reduz drasticamente o movimento físico da tela, especialmente importante no caso de transportes.

Proteção do verso contra sujeira, poeira e insetos que aceleram deterioração da tela e atraem umidade.

Proteção contra impacto e perfurações pelo verso.

Montagem de uma proteção permanente do verso em policarbonato alveolar com parafusos inox para evitar a corrosão futura. A proteção bem instalada tem que proporcionar uma boa vedação e ser termo isolante. Além disso, o verso deve ter algum afastamento da parede, especialmente quando se trata de paredes externas.

Montagem de uma proteção permanente do verso em policarbonato alveolar com parafusos inox para evitar a corrosão futura. A proteção bem instalada tem que proporcionar uma boa vedação e ser termo isolante. Além disso, o verso deve ter algum afastamento da parede, especialmente quando se trata de paredes externas.

Por fim… uma solução para muitos problemas:

Para eliminar ao menos seis dos dez riscos para obras de arte a longo prazo desenvolvemos a ArtCapsule. Feita de materiais com máxima barreira, ela consiste no encapsulamento hermético com montagem museológica e vedação a nível de difusão de gases e vapor de água, que mantém a obra isolada do ambiente externo, em atmosfera estável, sem oxigênio, com baixa umidade, livre de VOCs (compostos orgânicos voláteis), poluentes, sujeiras e insetos. Dentro da Art Capsule, a obra mantém seu estado de conservação, estética e valor monetário de forma praticamente infinita. Confeccionamos tudo sob medida, podendo se encapsular até obras tridimensionais.

Frente e verso de uma obra de arte com suporte em papel com encapsulamento de conservação ArtCapsule com amosfera modificada, que protege a longo prazo contra degradação, umidade, fungos e insetos.

Frente e verso de uma obra de arte com suporte em papel com encapsulamento de conservação ArtCapsule com amosfera modificada, que protege a longo prazo contra degradação, umidade, fungos e insetos.


RETRATO-STEPHAN

Stephan Schäfer atua hoje como sócio-diretor da Stephan Schäfer Conservação e Restauração Ltda., empresa de serviços de conservação, restauro de Obras de Arte, Esculturas, Pinturas e Arte Contemporânea, e consultoria especializada em gerenciamentos e análise de riscos para a conservação de acervos, conservação preventiva, conservação-restauração, peritagem e análise científica de obras de arte. Executa trabalhos de desinfestação com métodos atóxicos e implementação de programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP). Além disso executa e coordena projetos de transporte, higienização, catalogação, digitalização e acondicionamento de acervos. Conta com mais de 25 anos de experiência no ramo de conservação, restauro e pesquisa de técnicas artísticas e materiais artísticos. De 2003 a 2009, foi professor e docente responsável da área de conservação e restauro de pinturas e arte contemporânea no Departamento de Conservação e Restauro da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia. Nesta função, tem colaborado extensamente com o Museu Nacional de Arte Contemporânea, o Museu Nacional de Machado de Castro, e a Culturgest Portugal.

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