Veteranos do design brasileiro pretendem surpreender com instalações e peças raras

2 Apr 2019, 10:42 am

Em sua larga trajetória dedicada ao design brasileiro, Jacqueline Terpins se habituou a lidar com os extremos de temperatura ao manipular materiais, seja pelo fogo ou pelo gelo. “Meu trabalho registra na forma a memória dessa relação”, diz ela, reconhecida por seus fluidos objetos de vidro soprado e seu mobiliário com curvas generosas, de madeira, Corian ou metal.

Nesta edição da SP-Arte, a designer mostra todo o domínio de sua técnica na surpreendente instalação “Tempo”, que consiste de uma massa de gelo apoiada sobre uma delicada estrutura de ferro. À medida que o gelo lentamente derreter, gotejando por um único ponto central, a água será represada, criando um espelho d’água no terceiro piso do Pavilhão da Bienal, onde estará localizado o setor Design da feira. “A finitude da obra e o reflexo do espectador levarão ao encontro com nossa fragilidade e efêmera condição”, afirma.

Nesse trabalho, a paraibana radicada em São Paulo também se propõe a representar a constante transformação pela qual passamos. “Como em um instinto de sobrevivência, o ser humano tende a não olhar com atenção sua própria finitude. No entanto, ela está aí, presente. O tempo é o norte, nossa referência. O aspecto efêmero desse trabalho é a sua essência.”

Jacqueline lançará ainda uma nova coleção, composta pelo aparador em balanço U, no qual o tampo parece flutuar pelo posicionamento de suas bases; pelo carrinho Bar, representado por dois finos planos laminados de madeira e duas enormes rodas; pela mesa de centro D’Água, feita de sucupira; pelo conjunto de vasos de cristal soprado Tuiuiú; pela luminária Papiro de Corian translúcido, e outras novidades.

Já Hugo França, que desde 1980 pauta sua produção a partir de árvores condenadas naturalmente, seja pela ação do tempo ou do homem, trará duas raridades entre as dez obras expostas: uma escultura elaborada com raiz de pau-brasil e uma canoa centenária usada pelos índios Pataxó, que foi transformada em duas cadeiras, remetendo ao início da carreira do gaúcho quando ele se mudou para o sul da Bahia. “Minha produção começou em Trancoso, justamente pela convivência com os índios Pataxó, que faziam suas próprias canoas e ferramentas com a madeira da floresta. Se tornaram símbolo do meu trabalho e também uma das peças mais valorizadas nos leilões internacionais de que participo”, disse.

As cadeiras Maitá e Marimbá vieram de uma única canoa de pequi-vinagreiro, que, de tão velha, era usada para guardar aipim na casa de uma família Pataxó. Hugo a comprou há quinze anos e, agora, a apresenta pela primeira vez na feira. Quanto à raiz de pau-brasil, o designer a encontrou por acaso durante uma busca por raízes de pequi-vinagreiro, matéria-prima presente na maior parte de suas criações. Escondida em solo arenoso, a rara madeira, símbolo da primeira prática comercial do Brasil-Colônia, virou escultura.


Outro veterano do design que estará presente na SP-Arte é o mineiro Porfírio Valadares. Depois do sucesso de sua coleção “(I)Móveis” exposta em julho do ano passado na galeria Bergamin & Gomide, em São Paulo, ele retoma o tema com onze peças que transitam entre a arte e o design. “Eu gosto dessa ambiguidade, pois promove a crítica com relação ao nosso morar.”

As cômodas de freijó foram executadas pelo marceneiro José Dias, com quem Porfírio trabalha há trinta anos. “Trocávamos figurinhas toda semana, revendo cada detalhe. Contei com a sabedoria dele para simplificar o que parecia tão complexo no projeto. Sua capacidade de síntese me encantava”, conta o arquiteto. Com esse trabalho planejado por Porfírio desde o tempo da faculdade, ele homenageia prédios e cidades brasileiras. Dois dos móveis lembram Brasília, alguns as construções neoclássicas de São Paulo, os edifícios déco do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, além de representações de conjuntos habitacionais desprovidos de firulas e enfeites.

Quando perguntado se os itens seriam maquetes, ele responde no ato: “Maquetes são feitas para que leigos entendam um projeto de arquitetura. Nesse caso, meus ‘prédios’ são feitos para manipular, para usar. À medida que se mexe neles, acabam virando outro objeto”, acredita. Crítico aos novos edifícios cobertos de vidro que se espalham pelas metrópoles, Porfírio transformou janelas em puxadores ou trabalhou as fibras de lâminas de imbuia escura para destacar esse elemento arquitetônico.

Participando pela primeira vez da feira, o mineiro se diz entusiasmado em conferir a reação das pessoas diante das peças. Jacqueline é outra que se mostra ansiosa pelo início do evento. “A SP-Arte tornou-se referência para lançamentos deste segmento, gera visibilidade nacional e internacional e é uma excelente oportunidade de contato e troca direta com o público”, considera.


Regina Galvão é jornalista formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, com pré-MBA em Marketing pela Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) e pós-graduação em História da Arte pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo. Como editora, trabalhou em revistas como Casa Claudia, da Abril, e Casa Vogue, da Globo Condenast. Em 2018, participou da equipe de curadoria da mostra Brazilian Stones, Original Design, coordenada por Adélia Borges na Vitória Stone Fair, em Vitória, e foi curadora das exposições MoMA Design – Acervo Fiesp (2017), no D&D Shopping; Pensamento Circular (2014), no Museu da Belas Artes (Muba); entre outras.
Setor Design
Nesta 15ª SP-Arte, o setor Design chega a sua quarta edição. Voltado a mobiliário, iluminação e antiquário, o setor reúne os principais designers contemporâneos do país, assim como nomes clássicos do desenho brasileiro.

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