Editorial
4 tendências que podem impactar o mercado da arte em 2019
13 Feb 2019, 4:58 pm
POR Carollina Lauriano
Início de ano é sempre um momento propício para especulações: quais as principais exposições, os artistas-aposta, o próximo polo cultural mundial, entre outras conjecturas que movimentam o mercado de arte. Com a programação ainda se iniciando, o período é favorável também para observar outros aspectos que podem influenciar o cenário, bem como analisar algumas tendências que impactarão o mercado de arte, em maior ou menor proporção, neste ano de 2019.
Em 25 de outubro de 2018 o quadro “Portrait of Edmond Belamy” (2018), uma pintura criada inteiramente a partir de algoritmos e programação pelo coletivo parisiense Obvious, foi vendida pela Christie’s por 432,5 mil dólares quando o valor esperado pela casa de leilões era entre 7 mil e 10 mil dólares. Sem adentrar na discussão paradoxal que surge com o uso da Inteligência Artificial na criação de obras artísticas, aqui observamos como já existe uma especulação mercadológica em torno do assunto.
Impossível negar o fato que já estamos vivendo na era da virtualidade, tendo as mídias digitais impactado cada vez mais a economia global, inclusive o mercado de arte. Com um bilhão de usuários ativos por mês, o Instagram se tornou a plataforma social favorita do mundo da arte quando o assunto é pesquisa de referências. De acordo com o report “Online Art Trade 2018”, realizado pela seguradora Hiscox, 63% das pessoas entrevistadas utilizam o canal para fins relacionados à arte.
Ainda de acordo com a pesquisa, os compradores da geração millennial são diretamente influenciados pelas mídias sociais: 79% usam a plataforma para descobrir novos artistas, 82% usam o Instagram para entrar em contato e acompanhar seus artistas favoritos e 32% disseram que as mídias sociais tiveram um impacto crescente na sua decisão de compra (em 2017 o número foi de 29%). Essas informações vão de encontro com o dado de que 91% das galerias utilizam a plataforma como principal veículo de comunicação.
Outro assunto importante para o mercado da arte, no aspecto digital, são as criptomoedas. Embora existam muitas questões ainda não respondidas sobre regulamentação e padronização, o mercado já vem se preparando para esse novo tipo de transação. As grandes casas de leilões estão se unindo às startups para se preparar para o futuro. Em 2018, a Christie’s promoveu seu primeiro Art + Tech Summit, fórum dedicado a explorar o blockchain: criado para gravar as transações feitas a partir de moedas criptografadas em um banco de dados digital, o blockchain tem chamado a atenção do mercado quanto à transparência das transações, aumentando assim a confiança dos compradores quanto autenticidade, proveniência e detalhes de catalogação da obra. O fórum se dedicou a discutir seus impactos positivos e negativos e se a arte está preparada para lidar com essa tecnologia.
Com casas de leilão relatando uma queda nos lances oriundos da China continental, o mercado passa a olhar para Taipei, maior cidade da semi-independente ilha de Taiwan, como nova capital global de arte. Sob tutela de Magnus Renfrew – ex-diretor da Art Basel Hong Kong – a Taipei Dangdai foi inaugurada no último 19 de janeiro e já atraiu grandes nomes como Gagosian Gallery, Pace Gallery, Lisson Gallery e David Zwirner para sua primeira edição.
Com a China em guerra comercial com os Estados Unidos e os lucros continentais diminuindo, Taiwan surge como alternativa asiática para reaquecer o mercado. Outra mudança significativa é a injeção de investimentos de dinheiro proveniente da Arábia Saudita. Assunto bastante delicado e controverso, devido aos dados históricos do país e seus ataques que ferem os direitos humanos, é sabido que o gigante do Oriente Médio tem total interesse em investir em infraestrutura cultural.
Temas de urgência global continuam sendo destaque no mundo da arte. De 11 de maio a 24 de novembro, a 58ª Bienal de Arte de Veneza, “May You Live In Interesting Times”, alude a períodos de incertezas e turbulências. Nesse aspecto, discussões de raça, gênero, imigração, entre outros temas tocantes às recentes crises globais, continuam em alta na cena artística. Agora, como uma aposta pessoal, incluiria nesse debate a questão ambiental. Com países desistindo do Acordo de Paris, como podemos sobreviver a modelos ultrapassados de produção que superam a função da natureza, e a ganância e a corrupção que impulsionam essa destruição em massa? Promover uma mudança no sistema é urgente – vide os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho (MG), que presenciamos nos últimos três anos em território nacional. Se a arte é capaz de questionar o mundo pelo sensível, como pensar o colapso natural a partir dela?
Carollina Lauriano é formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo. Formada em Coolhunting (pesquisa em arte, design e moda) pela Central Saint Martins, atua como curadora independente desde 2017. Desde 2018 integra o time de curadoria e gestão do Ateliê397, um espaço independente de arte. Em suas pesquisas, interessa discutir a inserção das mulheres no mercado da arte.
*Este texto faz parte de uma série de colunas publicadas no site da SP-Arte. As opiniões veiculadas nos artigos de autores convidados não refletem necessariamente a opinião da instituição.
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