Um movimento vem crescendo nos últimos quinze anos: o de revisitar e reconhecer a importância da fotografia produzida no Brasil, entre os anos 1940 e 1980

22 ago 2018, 11h07

Por Julia Flamingo

 

Um movimento vem crescendo nos últimos quinze anos: o de revisitar e reconhecer a importância da fotografia modernista. Na academia, cada vez mais estudantes dedicam-se a pesquisas de cliques feitos no Brasil, entre as décadas de 1940 e 1980; nos museus e galerias, existe um esforço de trabalhar em prol da consolidação dos autores dessas imagens; e na Feira de Fotografia de São Paulo, diversas galerias exibem obras icônicas de grandes mestres.

A seguir, saiba mais da fotografia modernista e o que você encontra do período no evento, aberto ao público de quinta, 23 de agosto, a domingo, 26.

 

Fotografia por puro prazer

Nascida nos fotoclubes, no final dos anos 1930, a fotografia modernista brasileira está muito ligada ao pictorialismo, movimento que desenvolveu um híbrido da fotografia e da pintura por meio de alquimias no laboratório, com montagens, sobreposições e perfeito domínio técnico na produção da imagem. Em 1939, quando foi fundado o Foto Cine Clube Bandeirante, em São Paulo, seus integrantes se encontravam frequentemente para discutir teoria e prática da fotografia e desenvolver seu estilo próprio. Eles colocavam em questão os limites do suporte: se até ali, sua função era puramente documental, essas pessoas passaram a encarar a fotografia como arte. Para o curador Iatã Cannabrava, em matéria publicada na Folha de S.Paulo, em junho desde ano, “o fotoclubista é o diletante que se dedica à arte da fotografia por puro prazer, não por ofício”.

 

Técnica afiada

O conteúdo, para os fotoclubistas de então, era menos importante do que a forma. Seu discurso estético era uma possibilidade de contemplação. “Eles propunham um olhar para o mundo de maneira mais estetizante, mais elegante, sem as misérias”, afirma o curador Rubens Fernandes Júnior, pesquisador e crítico de fotografia, além de diretor e professor de comunicação da FAAP. Para isso, os fotógrafos modernistas tinham que ter uma técnica afiada: as cores preta e branca eram entendidas como primordiais para o efeito de luz e sombra. Além disso, eles pensavam como s composição entre formas arquitetônicas e a presença humana poderiam gerar ângulos inusitados. Um dos pioneiros da fotografia modernista foi Thomaz Farkas, o “Farquinhas” que, com apenas 17 anos, trazia um olhar bastante distinto para a fotografia. Em depoimento a Diógenes Moura, em agosto de 2010 – um ano antes de sua morte, – Farkas disse: “Fotografia: para mim, é o melhor jeito de aproveitar a vida. Vejam só: é ver, descobrir paisagens, pessoas, caras, grupos, ruas, fachadas, praças – todos trabalhando, brincando, folgando, comendo, dançando. […] Todo dia é diferente: todo olhar é outro e a gente percebe finalmente que o mundo é imenso!”.

 

Atenção internacional

“Há também um interesse internacional na fotografia modernista brasileira, que pode ser comprovado com a aquisição de fotografias pela Tate e pelo MoMA”, afirma Rubens Fernandes Júnior. Ele se refere a episódios como o de maio de 2016, quando German Lorca teve cinco de seus cliques incorporados ao acervo do Museum of Modern Art nova-iorquino. Um dos curadores da coleção Pirelli-Masp, entre 1991 e 2009, Rubens conta que foi uma das pessoas que batalhou para que o Masp adquirisse trabalhos do período. Atualmente, coleções particulares ou institucionais de renome não pensam duas vezes antes de comprar exemplares da fotografia modernista. No Masp, o Foto Cine Clube Bandeirante ganhou uma individual em 2016, ao doar 275 imagens à instituição. A mostra também ajudou a disseminar a estética e o vocabulário modernista e, na época, a própria sede do fotoclube localizado na Rua Augusta foi reformada.

 

Na SP-Arte/Foto

Paulistano de 96 anos e um dos expoentes do Foto Cine Clube Bandeirante, German Lorca começou a fotografar em 1936 e segue até hoje na ativa, em São Paulo. Ele é um dos homenageados na SP-Arte/Foto/2018. German foi convidado para revisitar cinco pontos da cidade, fotografados por ele entre os anos 1950 e 1970, e, a partir daí, fazer um novo registro. O resultado desse ensaio inédito pode ser visto na Revista SP-Arte, distribuída gratuitamente na Feira. Ele tem ainda outro bom motivo para comemorar: além da homenagem na SP-Arte/Foto, o fotógrafo ganha retrospectiva no Itaú Cultural, a partir de 25 de agosto. “German Lorca: mosaico do tempo, 70 anos de fotografia” tem curadoria de Rubens Fernandes Júnior, que vem trabalhando com Lorca ao longo dos últimos 26 anos.

Lorca é representado pela galeria Utópica, que traz para a Feira, nomes como Carlos Moreira e Annemarie Heinrich. A Mapa, apresenta a coleção do Fotoclube Brasileiro, primeiro grupo de fotógrafos efetivamente organizado no país. Estarão por lá imagens de nomes como Orlando Pilo Duarte, Ferenc Aszmann e José Lambert. Já a carioca Galeria da Gávea, presente com dois estandes no evento, dedica um deles às fotografias vintage: nomes como Ademar Manarini, Eduardo Salvatore, Paulo Pires e Thomas Farkas podem ser vistos por lá.

 

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