SP-Arte 2019

Traço— #1

Aniversários são, em si, momentos de reflexão. Ensejos para fazer um balanço do tempo que se esvaiu, do que foi construído e do que ainda se quer construir. No caso da SP-Arte, o aniversário de quinze anos também marca um nascimento: a traço —, revista da SP-Arte que surge repaginada na nova identidade da Feira, com design e conteúdos reestruturados, reforçando sua vontade e compromisso com a criação de materiais críticos que se debruçam sobre a arte e suas reverberações.

A questão do tempo é uma dessas reverberações – muito mais sentida que racionalizada. Em um momento histórico de sobrecarga de informações, é necessário pensar o tempo investido no recebimento e no entendimento daquilo que chega até nós. Nesta edição da traço —, o curador e pesquisador Moacir dos Anjos analisa a escuta empreendida nos trabalhos do Coletivo Amò e de Graziela Kunsch em parceria com Daniel Guimarães, colocando o demorar-se na arte como ferramenta essencial para a inclusão de corpos excluídos do ambiente democrático e apontando como práticas artísticas prolongadas se veem ameaçadas dentro do espaço expositivo.

Em parceria com o site de arte aarea, esta edição propõe um trabalho que se desdobra em objeto físico e em espaço virtual, de forma a explorar o ritmo particular de cada um desses meios. Nesse contexto, convidamos a artista Lais Myrrha a pensar um exercício que se propõe a esse fim. Breve cronografia dos desmanches, sequência de pesquisa iniciada em 2012, apresenta um catálogo de desmanches mapeados pela artista e espalhados por diferentes tempos e geografias, podendo ser folheado nestas páginas e com desdobramento no espaço expositivo virtual do aarea com nome de Diário de desmanches. Durante a Feira, Myrrha também realiza uma intervenção nas redes sociais da SP-Arte, expandindo sua prática a três diferentes módulos de expressão artística – o físico, o virtual prolongado e o virtual instantâneo.

Ainda neste volume, a argentina Maria Angélica Melendi organiza uma retrospectiva histórica que discorre sobre a relação da produção artística no Brasil com o restante da América Latina, ponderando uma possível identidade artística latino-americana e o que o futuro nos reserva nesse sentido. Em outra comemoração, dessa vez o centenário do designer e arquiteto Zanine Caldas, Amanda Beatriz Palma de Carvalho traça um perfil do artista e destaca a importância da preocupação com a mortalidade da flora brasileira – em especial na criação de objetos de durabilidade, como se observa a partir dos móveis-denúncia de Zanine. Por fim, Jayme Vargas discorre sobre o peso cultural do móvel moderno em relação ao movimento modernista nacional, considerando como a percepção dessas peças se adapta às subsequentes reedições do mobiliário.

Esta edição espera apresentar ao leitor diferentes considerações que perpassam o tempo e a sua desaceleração como forma de repensar relações, sejam elas sociais, históricas, geográficas ou individuais. De nossa parte, é certo que a América Latina vive um constante processo de construção, contestação e ressignificação de suas memórias, que edifica novos caminhos e cria novas estratégias de existência e resistência. Convidamos todos a resgatar suas próprias memórias, não em um movimento singelo de saudosismo, mas em uma atitude de contemplação e vivência – e assim, passado o momento de pausa, começar a pensar o futuro que queremos.

Distribuição gratuita
92 páginas, 20,8 x 27 cm
Bilíngue português / inglês

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